sábado, 22 de maio de 2010

Capítulo IV - Lembranças ao Vento

Eleanor LeBeau acordou, teve uma ótima noite de sono e estava muito feliz agora! Finalmente era o dia de sua formatura, finalmente seu amado professor a convidara para um encontro, tudo estava indo bem. Nada poderia ser melhor que aquilo, nada!
Um súbito medo correu pela sua espinha, ela sempre tinha medo quando tudo ia bem, sabia que sempre junto à grande felicidade vinha uma grande decepção, mas isso não ia atrapalhá-la hoje, estava muito feliz e nada tiraria esse animador sentimento dela.
A jovem tomou o café da manhã que tinha preparado na noite anterior como sempre. Já estava acostumada a viver sozinha. A vida de estudante fora de casa, sempre sem dinheiro e tendo que resolver todos os problemas sem sua família pela primeira vez. Eleanor não sabia se ia voltar pra casa dos seus pais em Châteauroux, ou se ia ficar em Paris.
Como era boa aluna, tinha conseguido um estágio em um museu que ajudaria a pagar suas contas caso ficasse para uma especialização, e claro, tinha o Fernando, o seu Beto que poderia fazê-la ficar mais!
Como de costume LeBeau iria à caminhada matinal com sua amiga, mas dessa vez não seria em um parque. Tinha combinado que hoje iriam pela famosa Avenida Champs Élysées, bem perto de onde ficava o café em que encontraria seu amado professor.
Eleanor estava eufórica. O que ele queria com ela? Só podia ser para falar que a amava. Beto nunca tinha dito isso, mas a jovem imaginava que seu professor sentia alguma coisa por ela, algo especial.
Sua amiga logo chegou a sua casa e foram para a avenida. A colega, que se chamava Fabienne Dorléac, não era muito bonita, era verdade, mas agradava a todos por sua simpatia. Tinha cabelos loiros e olhos castanhos claros, quase tão baixa e pequena como LeBeau, mas não tinha sua aparência frágil.
Assim seu sorriso de sempre Fabienne logo falou:
- Como estão indo as coisas Eleanor?
- Muito bem!
- Parabéns por sua formatura!
- Você vai lá não é?
- Claro que vou, arrumei até um vestido!
- Hum, você de vestido! Nunca tinha imaginado!
As duas riram disso, realmente Fabienne não era muito de usar vestidos, usava roupas mais práticas, roupas de fotógrafa como ela dizia. Assim depois de um tempo voltou a falar:
- E afinal de contas, o Mike também vai estar lá!
- Sim, Fá. Mas tome cuidado com ele, eu sei que ele é bonitinho...
- Ele é uma gracinha Eleanor!
- Sim, mas tome cuidado, ele não...
- Você já escutou aquela música?
- Eu... Qual, a Jái confiance em toi? – Perguntou LeBeau.
- Sim, a da Nadiya!
- Já minha querida, mas não sei se gostei...
- Ah, agora vai sair um álbum dela, Changer les Choses, eu acho.
- Hum. Vamos ver. Talvez eu goste, mas não gosto muito de música pop!
- Certo, mas por que estamos indo pela avenida hoje?
- Ah, é que eu vou encontrar com o Beto!
- Sei, vai falar com ele agora que você se formou né?
As duas riram novamente...
- Então eu ficarei aqui – disse Fabianne que parecia ter visto algo – Também tenho um encontro sabe?
- Quem?
A amiga se calou e Eleanor temia a resposta, mas logo suas suspeitas se esclareceram quando viu Alex Michael Carter encostar o automóvel.
- Man! – exclamou Alex – Por um momento eu achei que não encontraria vocês!
Mike era o aluno mais disputado pelas garotas do seu curso e ele se aproveitava disso muito bem. A jovem arqueóloga não gostava dele por achá-lo um completo canalha.
LeBeau fez uma expressão de tanto desgosto que sua amiga sentiu vontade de pedir desculpas por tê-lo chamado até ali...
- Bom! – disse Fabianne – Espero que não se aborreça por eu ter falado que estaríamos aqui!
- Por quê? – respondeu o estadunidense antes que quaisquer umas das duas falassem – Somos amigos e claro os melhores arqueólogos daquele curso, não é mesmo?
- Não! – exclamou rapidamente Eleanor – Com certeza temos as melhores notas, mas apenas saberemos se somos bons arqueólogos no futuro!
- Boa resposta! – elogiou Alex – Essa é a minha garota!
- Não sou sua garota! – a arqueóloga olhou para sua amiga – Acho que sou a única do curso a dizer isso, mas...
- Bom, acho melhor irmos então! – disse finalmente Fabianne, magoada com a indireta da colega.
- Até mais Fá!
- Até a formatura!
- Sim, até a formatura! See ya!
Eleanor refletiu por um tempo sobre os dois juntos e sabia que a amiga era romântica demais, seu coração seria partido por aquele cafageste, mas como dizer isso a doce Fabianne?
Não posso fazer nada agora, pensou. Assim voltou a caminhar e logo estava próxima do Café Montecristo, onde tinha combinado a se encontrar com o Doutor Vilela, seu amado professor. Sentou-se em uma mesa posta debaixo de um aconchegante toldo vermelho. LeBeau notou que podia ver o Arco do Triunfo de onde estava. Era simplesmente lindo.
Não demorou muito para que Fernando chegasse. Ela o olhou com ternura e sentiu aquele frio que sempre sentia quando ele estava perto. Beto a olhou rapidamente, desligou o celular que estava usando e sentou.
- Perdão! – iniciou Vilela – Estou atrasado não? Desculpe! Era minha mãe, ao telefone. Sempre fica nervosa antes de um show!
- Sim, claro! Sua mãe é cantora... Como se diz mesmo? Ah sim, de sertamejo!
- O termo correto é sertanejo! Mesmo agora ela tem receio do palco.
O brasileiro colocou um embrulho em cima da mesa. Será que era um presente para ela? Isso a fez lembrar que tinha um presente para ele, Eleanor o entregou.
- Eu obviamente já li sua tese, pequena! – disse o professor examinando o livro.
- Bem, mas essa é para você, quero que fique com ela.
- Quanto a isso eu lhe agradeço! Sua tese está ótima, é a melhor desse ano certamente!
- Achei que a melhor fosse à do Mike.
- Absurdo, eu te comparava com ele só para você se esforçar mais. Você sempre foi minha melhor aluna e de qualquer forma, Carter não passará de um ladrão de tumbas, não será um arqueólogo como você!
- Muito obrigada! É difícil tirar um elogio seu, heim?
- Você sempre recebe elogios meus, pequena. Espero não ter alimentado sua Hibris com isso!
- Ah tudo bem. Talvez só um pouquinho!
Fernando desviou o olhar, ele fazia isso às vezes e LeBeau não entendia o porquê. Ele pegou o embrulho que tinha e entregou a ela, sorriu e disse:
- Isso é um presente de formatura, espero que goste!
- Tenho certeza disso, Beto! Você me conhece muito bem!
- Não vai abrir? – Vilela perguntou evasivo.
- Depois eu abro, acho que você não me trouxe aqui só para isso?
- Bem, você terá minha recomendação para sua especialização, é o Dr. Alencastro que cuida dessa parte e...
- Não desvie do assunto professor, você me entendeu muito bem!
- O que você espera de mim Eleanor? Já discutimos isso.
- Sim, você disse que não me namoraria enquanto eu fosse sua aluna, bem, agora eu me formei e não sou mais.
Respirou fundo e tentou se acalmar. Ela o estava perdendo e sabia disso, não podia ficar desesperada, se não ele se decepcionaria, tinha que ser forte e firme, como seu amado!
- Você não está me escutando, eu...
- Eu vou voltar para o Brasil, Eleanor. Fui contratado para chefiar as escavações do Quilombo da Lua, provavelmente eu não vou mais voltar.
- Eu vou com você Beto, não quero te perder, eu...
- Não você ainda não entendeu, eu não posso te dar aquilo que procura!
- Entendi, você vai voltar para sua esposa, não é isso?
- Vou sim, voltar para ela e para minha filha, elas estão precisando de mim agora e não a como mudar isso!
- Eu também preciso de você, eu te amo, não consegue entender isso?
- Calma! Não fale desse jeito. Não posso fazer nada a esse respeito, você é jovem e linda, vai encontrar alguém, sinto muito por tudo isso!
Jovem, Fernando me vê como uma menina? Não, ela tinha que mostrar para ele que não era uma menina, que era uma mulher, que era melhor que a esposa dele. Não, isso estava errado.
- Veja bem, pequena! Isso não vai dar certo, você é uma pessoa fantástica, essa é a verdade, mas não posso te dar ilusões!
- Você vai embora, vai sair assim?
- Vou Eleanor, você vai ficar mal por muito tempo, mas vai melhorar, você é mais forte que imagina...
- Não sou nada! – LeBeau disse com desespero – Nunca serei nada!
Ele sorriu, lembrou de um poema de Fernando Pessoa, que sua aluna acabara de citar sem conhecer. Era um dos que mais gostava, olhou para ela com ternura e recitou:

“Não sou nada
nunca serei nada
não posso ser nada
À parte a isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”

Vilela deu um último olhar para a jovem e saiu. Eleanor ficou desolada com a firmeza dele, ficou desolada por tê-lo perdido, pois sabia que esse era o amor de sua vida e ela não iria encontrar outro como ele.
Depois de um tempo LeBeau olhou para o embrulho e o abriu, reconhecera o chapéu Cury e sabia o quanto isso era importante para seu professor, sabia que não tinha como calcular o valor do presente que Fernando a deu.
- Sim, Beto eu vou te esquecer, vou ser forte e você ouvirá falar de mim antes que eu te reencontre, pode apostar! – Disse isso para si mesma, se levantou da mesa e saiu, mais determinada do que antes.


Eleanor sentiu uma dor profunda, uma dor na cabeça muito forte. Abriu os olhos, estava zonza. Levantou-se com muita dificuldade em entender o que estava acontecendo.
Demorou muito para se recobrar, agora ela lembrava! Sim, tudo isso tinha sido um sonho, sombras do passado, lembranças ao vento. Por que aquilo? Por que agora? LeBeau não sabia.
Então lembrou do vale, dos Acritós. Sim, tinha sido capturada e tão logo se lembrou, ela escutou um choro contido. Um som de sofrimento e angustia, mas que estava extremamente baixo que a francesa quase não ouviu. No entanto, reconheceu a voz...
- Fernanda é você?
- E... Eu... Você acordou? – gaguejou a antropóloga.
- Sim! – respondeu Eleanor – O que aconteceu? O que fizeram com você?
- E... Eles me prenderam. Meu Deus, eu os vi...
- Os viu? Como assim? O que você viu?
- Oguata! Ah, coitadinho dele! Ele não morreu com as flechas!
- Não?
- Sobreviveu e esperou aqueles índios se aproximarem... E matou um deles! Mandou um deles para o inferno!
- Entendo...
- Ah Eleanor você não entende nada... Eu os vi!
- Como assim? Fale logo!
- Esses acritós pegaram o corpo dele e trouxeram para a aldeia! Como se fosse um troféu! Deus, eles festejaram!
- Onde está o corpo dele agora?
- Meu Deus...
- Diga logo Fernanda! Vamos!
- Eles... Deus! Os índios o comeram!
- Mon Dieu!
- Eu os vi! Entende? E... Eu... Aaahhhhhhhh!
A jovem e assustada antropóloga olhou para trás de LeBeau e deu um berro horrendo. A francesa não teve tempo de olhar e teve seus cabelos puxados repentinamente com muita força. Sua amiga gritava, mas foi silenciada de alguma forma. Eleanor foi arrastada com extrema brutalidade até o centro de uma aldeia dos acritós, ela presumiu...
A arqueóloga ainda estava muito mal, mal conseguia ver aqueles indígenas que a cercavam. Assim, foi jogada aos pés de alguém, tinha tanto medo que quase não pode levantar o rosto e olhar, mas tomou coragem e pode ver a figura mais assustadora e medonha que tinha visto até então.



Nota do autor: A cantora francesa Nadiya realmente existe e em 98 ela estourou na França com o single Jái confiance em toi. E realmente depois disso, ela grava um disco chamado Changer les Choses.
A personagem Fabianne Dorléac, embora aparece pouco, teve seus fãs e realmente gostei dela. Seu nome é inspirado no nome de uma famosa atriz francesa e ela não é feia, como muitos pensaram, mas apenas não tão bonita quanto a Eleanor.
Queria dar mais profundidade ao sentimento entre os dois arqueólogos e acho que esse capítulo ajudou muito. Ainda tive a oportunidade de novamente mostrar o chapéu do Indy, esclarecendo melhor sua importância.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Capítulo III - Entrando no Vale

Organizar aquela expedição demorou muito mais que Eleanor LeBeau poderia prever. Foram necessários três longos meses para unir os trinta e sete integrantes que eram compostos por arqueólogos, antropólogos, escavadores, geógrafos e rastreadores. Assim, com tudo devidamente preparado, eles finalmente partiram para o desconhecido Vale dos Acritós.
O Vale era cercado por um paredão de montes escarpados no qual a forma de entrar mais acessível seria uma estreita caverna, que provavelmente era a única entrada para se chegar ao interior da morada dos índios e claro, ao Templo. Um outro meio seria obviamente escalando, mas uma expedição daquele porte tornaria essa idéia completamente inviável.
A entrada da caverna era coberta por trepadeiras que camuflavam sua entrada tornando muito difícil de achar. Os rastreadores e geógrafos foram fundamentais para que se encontrasse a abertura que ficava aos pés de um imenso morro formado por roxas sólidas. Principalmente o mestiço conhecido como Joel Oguatá, que fora o mais perto de um sangue indígena que Eleanor conseguiu contratar, já que todos os rastreadores nativos conheciam muito bem os Acritós por suas lendas e os temiam inexoravelmente.
Logo na entrada, mesmo antes de penetrarem na caverna uma das antropólogas; uma linda e alta moça de cabelos loiros e olhos azuis, que provavelmente já tinha estado em várias aldeias indígenas, chamada Fernanda Schimidt; disse espantada:
- Olhem ali!
Havia uma pequena coruja em uma árvore bem próxima a caverna, como se tivesse guardando o Vale. A ave era de uma tonalidade que ia do negro ao cinza e havia algo de muito sinistro em seu olhar! Ao ver o medo percorrer todos, LeBeau prontamente espantou a coruja e falou:
- Estão vendo? Não há mal-agouro nenhum. Trata-se apenas de uma simples e linda coruja!
- Não é o... – começou a dizer o caboclo Oguatá, mas este foi bruscamente interrompido pela arqueóloga...
- Matintapereira? Isso é um mito, não existe na verdade!
Meio contrariados os integrantes da expedição continuaram e entraram relutantes na caverna. O seu interior não era muito íngreme, assim não dificultava muito seu acesso a Terra dos Acritós.
Ao entrar todos puderam sentir nitidamente o forte odor dos resíduos que se formaram ali durante os séculos de completas trevas e silêncio. Parecia que os humanos a muito não colocavam os olhos naquela escuridão, mas logo perceberiam que estavam enganados...
Os escavadores ligaram suas lanternas; ao gentil pedido do líder dos geógrafos, um negro velho e muito experiente Daniel Gonçalves Dias; iluminando completamente o local ajudando o trabalho dos rastreadores.
Fizeram um longo caminho até que a caverna se bifurcou em duas novas passagens. Foi ali que o rastreador Joel pode encontrar rastros de pessoas que passaram por pela via da esquerda não há muito tempo e achou melhor avisar aos companheiros:
- Um grupo de aproximadamente vinte homens passou por aquele lado, ao julgar pelos rastros eles não são indígenas e não estamos a mais de três horas de distancia deles.
- Je comprends! – disse a francesa – Oguatá, mas há uma suave brisa vinda do caminho da direita, deve haver uma saída não muito longe, não é mesmo?
- Eu... concordo!
- Mas e os que passaram pela esquerda? – perguntou um dos arqueólogos, um jovem rapaz muito magro e alto, chamado Joaquim Carvalho – Quem poderiam ser eles? Não seria melhor segui-los?
- Acho melhor seguir por onde determinei! – respondeu com firmeza Eleanor, pois sabia que Carvalho acabara de se formar e estava ansioso para mostrar serviço e isso poderia ser um problema – Mesmo porque o próprio rastreador concorda comigo.
LeBeau sabia exatamente quem liderava a outra expedição. Era Alex Michael Carter com certeza! Entretanto ela não tinha a menor vontade encontrar o canalha que fez tanto mal a sua amiga tão cedo...
Ao continuar pelo caminho da direita, a brisa logo foi aumentando drasticamente, tornando-se uma corrente gelada que esfriava até os ossos. Uma sensação estranha tomou conta da experiente arqueóloga, um arrepio lhe subiu à espinha como se algo muito ruim estivesse por acontecer.
Inesperadamente uma gargalhada maligna pode ser ouvida claramente por Eleanor. Suas pernas começaram a bambear, começou a se sentir caindo, caindo sem parar. Seus joelhos se dobraram ela começou a vomitar. Ouvia agora os homens de sua expedição gritando apavorados.
A arqueóloga tinha que fazer alguma coisa, algo estava errado e tudo dependia dela. Quando já estava quase se recuperando, uma terrível visão surgiu em sua frente desafiando sua sanidade.
Seres horrendos quase amorfos, do tamanho de crianças, rodeavam-na por todos os lados. Tocavam seu corpo queimando suas roupas e dilacerando sua carne causando uma dor quase insuportável.
- Não! – ela disse. – Isso não poderia ser real, isso não era real!
LeBeau fechou os olhos.
- Fique firme mocinha, são apenas alucinações, força, não há nada aqui! Tem que se recobrar. Você tem que levantar, erga-se!
Prontamente a francesa abriu os olhos, agora percebera a realidade, não havia nada, mas seus companheiros não participavam de sua recente e incrível revelação. A insanidade fazia com que um atacasse o outro companheiro, achando que era um daqueles monstros criando em uma contusão generalizada.
Ela não podia deixar que aquilo permanecesse! Gritou e bateu em cada um deles até que recobrassem a consciência. Entretanto oito integrantes da expedição foram mortos em meio a aquela loucura, incluindo o jovem arqueólogo Carvalho...
Mas o que teria provocado tudo aquilo?
Quase como respondendo essa pergunta Oguatá disse:
- Era um Avasati! – Fernanda encarou o caboclo reconhecendo suas palavras e Joel continuou – Olhem ali, estão vendo?
Havia um corpo próximo ao local que estavam. Era tão antigo que Eleanor não conseguiu analisar a quanto tempo aquele cadáver estaria ali. Ela foi até lá, e examinou o corpo. Havia uma substancia estranha entre os ossos, algo que deve ter sido modificado com o passar dos anos...
- Non! – a arqueóloga exclamou – Não é nenhum espírito maligno indígena! Estão vendo isso? É apenas algum tipo de alucinógeno. Deve ter nos afetado assim que entramos por essa passagem, quando o inalamos, nada demais!
- Que fez com que víssemos os mesmos monstros? – falou um dos escavadores; o pequeno, mas esperto homem chamado Paulo Martins. – Essa não vai colar!
- Sim, alucinações coletivas já foram registradas antes! – respondeu a antropóloga Fernanda – É mais comum do que vocês imaginam!
- Estou dizendo que é um Avasati, fomos amaldiçoados! – Disse o rastreador apontando para a francesa – Você não devia ter incomodado aquela coruja!
- É Dra. LeBeau para você Oguatá! Já estou cansada de suas superstições! Vamos juntar e enterrar os mortos temporariamente e vamos continuar seguindo com a expedição!
Eles continuaram pelo caminho até começarem ao ouvir um ruído de água fluindo ao longe. Não demorou muito para eles chegarem a uma grande fenda, comprida e bastante funda. Seu único acesso para continuar era uma ponte pênsil que ligava es extremidades da fenda. A ponte parecia ser muito antiga, feita de uma estreita passarela madeira e cordas.
- Bom, acho melhor descansarmos aqui antes de prosseguirmos. – concluiu Eleanor vendo que todos ainda estavam muito abatidos – Depois continuaremos. A saída não deve estar muito longe.
- Não está. – respondeu Daniel Dias – Pelo que pude ver pelo GPS acho que já estamos em bem mais que a metade do caminho!
- Ótimo! – a francesa sorriu e todos acharam que seria pela notícia, mas de fato foi por finalmente ela ter tido uma resposta rápida em português. Ela disse “ótimo” e não “très bon”. Estava se acostumando com o idioma. – Oguatá eu quero sua ajuda aqui, sim?
Os dois foram até a ponte e testaram para ver se era possível passar por ela. Concluíram que sim e quando voltaram a arqueóloga pode ver a forma que Fernanda Schimidt, tocava suavemente sua linda flauta, parou e olhou para ambos. Aquela antropóloga estava com ciúmes? Pensou. Era incrível que mesmo depois de tudo, até da morte de companheiros havia um possível romance surgindo. Esse pensamento fez LeBeau lembrar de Beto, mas ela logo se recuperou disso.
Todos descansaram bem e logo se colocaram para continuar a expedição. Assim Eleanor testando novamente a ponte disse:
- Essa ponte é velha mais bem forte! Nós iremos um a um por causa da carga. Fez uma pausa e continuou – Se a ponte balançar vocês terão o impulso de se encolher, mas não façam isso. Quando ocorrer, estiquem os braços e separem as cordas, assim ela para de balançar e volta a ser estável.
Houve uma demora muito grande para atravessarem a frágil ponte. A francesa teve que ajudar muitos que estavam com medo de passarem. Ela acabou ficando na ponte, próximo a uma extremidade enquanto Oguatá ficava na outra, ajudando todos a passarem.
Apenas Fernanda quase caiu, derrubando sua lanterna, mas o rastreador a segurou firmemente e ficou sem jeito pelo olhar doce que a antropóloga lhe dirigiu. Eles ficaram ali por um tempo, até que Paulo Martins resolveu interromper o momento:
- Já entendi, vão ficar ai o dia inteiro né? – havia um grande sorriso no rosto do escavador – Se fosse possível, gostaria de passar ainda hoje sabe?
- Claro! – a jovem respondeu envergonhada – Vamos indo!
Os outros conseguiram chegar ao outro lado sem muitos problemas e seguiram em frente.
Não demorou muito para eles chegarem ao final do caminho. Logo ouviram os pássaros e chegaram à saída. Era no alto do morro, assim eles podiam ver quase todo o Vale dos Acritós.
Era grande, ou maior que todos presumiam. Possuía uma mata fechada e escura, não muito típica da Mata Atlântica. Possuía um lago que ficava mais ou menos no centro do Vale, com uma pequena ilha de pedras.
Não conseguiam ver nenhuma aldeia, mas podiam ver uma estranha formação à esquerda de onde estavam não muito distante do lago. Eleanor imaginou que podia ser muito bem o Templo e deu ordens para que todos se dirigirem para aquele local. Iriam até a margem e se guiar por lá.
Eles seguiram resolutos por uma trilha embrenhando pela mata, sempre atentos com algum possível encontro com os Acritós. Daniel Dias, o geógrafo, foi analisando o solo para guiá-los até o lago, já que não podiam ver quase nada dentro da densa floresta. Recebia a ajuda de Oguatá que colocou um de seus rastreadores a frente para poder cuidar da navegação terrestre.
Enquanto todos estavam tranqüilos e pensativos; cada um com sua tarefa e pensando no que fariam com os ganhos por aquele grande achado, um Templo Fenício na América; houve um estrondo e, os membros da expedição que se localizavam mais a frente da marcha. Puderam ver nitidamente um tronco de árvore, cheios de estacas caírem sobre o escavador Paulo Martins e dois dos rastreadores.
LeBeau em um impulso tentou correr até eles, mas foi impedida por Oguatá que, bem cuidadosamente, se aproximou da armadilha observando todos os lados antes de voltar-se para os três, que já estavam mortos.
Tocou os corpos, tocou as estacas, passou o dedo em um musgo esverdeado presente nelas e depois lamber e cuspir disse:
- As estacas estão envenenadas, melhor tomarmos cuidado redobrado!
Transtornados, todos demoraram a continuar, a experiente arqueóloga achou que deveriam fazer mais uma pausa, mas voltando o caminho e ficando longe da armadilha, para não serem rastreadas pelos Acritós.
Desta vez Fernanda estava muito abalada, pois nunca tinha visto ninguém morrer antes. Ela estava sobre o efeito do alucinógeno na caverna e não viu quando os antigos companheiros morreram, apenas agora. Joel se aproximou dela para tentar conforta-la e a antropóloga aceitou seu abraço.
- Oguatá? – perguntou Schimidt - Seu nome indígena, não?
- Sim, recebi esse nome da aldeia de minha mãe. Significa andarilho!
- Todo nome tem um significado! O meu, Fernanda, é teutônico e quer dizer ousada, já Schimidt é a palavra germânica para ferreiro.
- Que interessante! – disse o rastreador tentando ser amável – Ficará tudo bem Fernanda. Eu cuidarei de você.
Eu cuidarei de você. Eleanor, observando os dois, refletiu por um tempo sobre aquela frase. Será que Fernando um dia diria isso para ela? Provavelmente não porque LeBeau era não fazia o tipo de moça indefesa. Era muito mais forte que aquilo e de qualquer forma Beto a tinha decepcionado, mas ainda pensava nele. Por quê?
- Não podemos parar toda vez que temos um problema! – pronunciou com cuidado o velho geógrafo – Desculpe, não quero desafiar sua autoridade, mas acho que seria melhor sairmos logo daqui! Já estamos bem perto do lago.
- Tudo bem, Daniel! – a francesa respondeu com um sorriso tão delicado que fez Dias desviar o olhar. Ele tinha uma imagem paternal que a arqueóloga adorava – Só estou dando um tempo para eles, já partiremos. Obrigada pela ajuda!
Logo a expedição se colocou mais uma vez em marcha, agora com o caboclo Joel liderando na frente, passando pelo mesmo local onde a armadilha havia matado três dos seus membros.
- Foi muito prudente voltarmos Doutora LeBeau! – exclamou Oguatá ajoelhado olhando para o chão – Os Acritós estiveram aqui há pouco tempo.
- Como pode ter certeza que são eles? – perguntou Fernanda – Podem ser quaisquer outros índios!
- Está vendo a profundidade dessas pegadas? Se me der o exemplo de outra tribo que tenha em seus integrantes homens com mais de cem quilos e acima de dois metros de altura...
Repentinamente ele parou, houve um perturbador silêncio por alguns instantes.
- Há um fio aqui, estão vendo? – disse o experiente rastreador. – Devia ser para mais algum tipo de armadilha, mas eu desarmei!
Daniel Gonçalves Dias tomou a frente:
- Mas agora esta não pode nos pegar mais. Temos que sair logo desta mata! Vamos!
Ao dizer isso o geógrafo saltou pelo fio e continuou, mas rapidamente afundou no chão e caiu sobre um buraco com mais estaca envenenada. Berrou, tremeu em espasmos involuntários, até finalmente morrer.
Esses Acritós são realmente o maior dos perigos desse maldito vale, Eleanor lembrou do que Dr. Vilela havia lhe dito. Todos se prepararam para continuar com mais cuidado ainda. Mas Joel continuava parado, absorto por um bom tempo.
- O que foi Oguatá? – perguntou LeBeau.
- É o sentido de índio dele – Respondeu outro rastreador – Nunca o vi...
- Todos de costas uns para os outros. Agora! Os malditos estão aqui!
Ao falar isso Joel Oguatá foi alvejado por flechas vindo da mata e caiu ruidosamente no chão, já sem vida. A experiente arqueóloga rapidamente sacou suas pistolas, ela tinha duas 5.7 da Fabrique Nationale. Como alguns da expedição, ela atirou contra a mata tentando acertar os agressores, mas apenas mais flechas zumbiram no ar ao encontro dos membros da expedição.
O ataque foi rápido e esmagador. Flechas voavam de todos os lados sem que ninguém pudesse entender corretamente o que estava acontecendo. Os acritós gritavam escondidos na mata causando mais desespero e confusão. Em pouco tempo quase todos da expedição estavam mortos, o fim parecia inevitável.
A francesa, em um ato impulsivo, se embrenhou na mata para tentar encontrar algum daqueles índios e em meio a toda aquela confusão um tacape se chocou rapidamente com sua cabeça, Eleanor caiu e não conseguiu ver quem a atacou, apenas uma risada, que ela julgou ser feminina, pôde ser percebida antes de desmaiar...



Nota do Autor: O Matintapereira é uma lenda indígena de mal-auguro onde o olhar de uma coruja revela que algo de muito ruim está para acontecer, e realmente coisas muito ruins acontecem no Vale e esse início é muito bom para prever o que aguardava a Eleanor e principalmente a expedição.
O Avasati é um espírito indígena que entra no corpo de uma pessoa enfraquecendo sua mente para que ele possa possuí-la. A forma que é apresentada aqui é uma interpretação totalmente minha.
O ataque dos acritós foi rápido e furtivo, muitos me falaram que eu tirei isso de vários lugares, mas na verdade é assim um ataque indígena. Queria também mostrar logo de cara que os acritós são muito implacáveis e claro estão em seu território o que torna muito difícil combate-los.

sábado, 8 de maio de 2010

Capítulo II - Sombra do Passado

Eleanor já estava cansada. Ora, já tinha 12 horas de estrada, e LeBeau ainda não havia encontrado a cidade na qual sabia que o Fernando estaria. Bem, pelo menos era o que a filha dele dissera...
Filha dele, a pequena Vitória. Ela era uma menina linda e fez a francesa imaginar como seria sua mãe, a esposa de Roberto. Esses pensamentos trouxeram tristeza à arqueóloga e, para se distrair, tentou prestar a atenção em outra coisa.
O rádio estava ligado, mas não tocava música, apenas a mesma notícia sobre os recentes escândalos de corrupção e sobre a morte de uma tal de Marielza, uma cantora que estava envolvida de alguma forma em tudo aquilo...
Chega! Ela não queria ouvir mais isso! Não estava agüentando mais aquele calor e foi quando já quase desistindo de encontrar seu amado, a jovem finalmente avistou a cidade.
- Hameau! – exclama. – A cidade não passa de um vilarejo!
Realmente, Miraí fica em meio a montes, assim sendo praticamente um vale, e ela não achou um bom agouro aquilo. Não possuía mais de 15 mil habitantes com certeza. Bem, pelo menos era próximo da localização do Templo, seria por isso que Beto estava lá?
Dentro da cidade, precisava perguntar onde ficava o endereço que Dr. Vilela morava, já que ela apenas sabia que ele estava nessa cidade, mas não exatamente onde, se bem que pelo tamanho da mesma Eleanor imaginou que não seria muito difícil afinal de contas!
Estava na avenida principal e resolveu perguntar a uma simpática moça que estava, aparentemente, passeando na praça central bem enfrente a uma antiga igreja católica que, embora nenhuma das duas soubessem, estava lá desde a fundação da cidade.
- S’il vous plaît... – iniciou LeBeau esquecendo por um instante que não estava mais na França. – Desculpe! Por favor, a senhorita poderia me dar uma informação? Sabe onde mora o Doutor Fernando Roberto Vilela?
- Uai! Será que você está falando do Fernando filho do Jucelino? Um que morou lá na Europa? Mas ele não é médico!
- Tout à fait! – respondeu eufórica a francesa. – Beto dava aulas de História!
- Oia, então só pode ser o mesmo! Saber onde ele mora, eu sei, mas acho mais fácil você encontrá-lo no Bar do Dedé! Sempre o vejo lá essa hora!
- Oui, je pense, mas Bar do Dedé?
- Sim segue por lá e vai até a rodoviária – disse a mineira apontando o final da avenida. – Daí vira à direita e segue toda a vida. Vai passar por um corguinho. Depois na próxima entrada à esquerda fica o Beco José Romão. O bar fica na esquina!
- Obrigada!
A arqueóloga, agradecendo à moça, logo se colocou a dirigir o automóvel por onde foi indicada, achando o lugar facilmente. Ela estaciona em frente ao chamado Bar do Dedé. Parecia simpático, a jovem pensou, e decidiu entrar! Pegou um embrulho que trouxe da França, um presente que seu professor havia lhe dado na formatura, e se dirigiu ao balconista:
- Olá – disse com alegria. – Bom dia!
- Uai, bom dia moça! – respondeu rapidamente o dono do bar. – Está viajando? Quer algo para beber? Tenho café quentim saindo agora!
Eleanor teve certa dificuldade de entender a última palavra, mas poderia apenas ser café quente, no diminutivo. Ainda não estava acostumada com os vários regionalismos do português no Brasil e imaginou que isso deveria de dar devido à sua grande dimensão e, francamente, havia lugares na França que nem se falava francês. Realmente algo estranho tinha acontecido, pois todos no bar a olhavam e alguns faziam isso de uma maneira vulgar da qual LeBeau não gostou, mas tentou esquecer isso e voltou a falar:
- Por favor, estou procurando um velho amigo que me disseram estar aqui, em seu bar – fez uma pausa, passou a mão nervosamente pelos longos cabelos e continuou. – Ele se chama Fernando Roberto Vilela.
A francesa percebeu facilmente a alegre expressão do velho balconista mudar radicalmente para um olhar ar, no mínimo, espantado! Será que a arqueóloga falara algo errado? Quer dizer, Eleanor fala português muito bem, mas nunca tinha vindo ao Brasil e poderia ter cometido algum erro!
- Oh, moça, se está procurando o Fernando ele está logo ali! Uai, viu ele não? Sentado, bebendo e dando problemas como sempre!
Novamente seu coração disparou. Finalmente! Ela o encontrara, depois de tanto tempo e de ter passado por tantas dificuldades... Finalmente o encontrara.
Entretanto aquela sensação a incomodava, parecia uma jovem universitária de novo. Aquele amor ingênuo novamente dominou sua mente. Suas mãos suavam frias de novo, mas LeBeau não queria isso. Depois de tantos anos não queria que ele a visse daquele modo.
Respirou fundo e...
A arqueóloga não podia acreditar! A visão que a francesa teve não era real, não podia ser real. Ela o vira e quase não o reconheceu, aquele homem estava longe de ser o seu professor, de ser o homem pelo qual se apaixonara. No entanto, por mais absurdo que fosse, era ele! Aquilo era quase impossível de aceitar.
Fernando estava em uma mesa, nos fundos do bar. Bebendo, mas ele não bebe, ou não bebia. Estava de barba, isso já seria suficiente para ela saber que Beto não estava bem, pois ele nunca fazia a barba quando estava mal. Eleanor o conhecia muito bem, mas não era apenas aquilo que a assustava.
Seu amado, o grande homem por quem ela ainda estava apaixonada, estava sujo, na verdade imundo, e ao se aproximar sentiu o cheiro forte de bebida e mais coisas que preferia ignorar.
O olhar de Fernando estava vazio como se estivesse alheio a tudo em volta, mas repentinamente uma fúria surgiu na sua expressão e o velho Dr. Vilela gritou fazendo LeBeau pular assustada.
- Desligue essa velharia que você chama de rádio seu cachaceiro desgraçado! – levou mais um copo de pinga à boca e voltou a berrar – Não posso ter paz nem nessa espelunca de lugar? Heim?
Mon Dieu, a arqueóloga pensou. Nunca tinha o ouvido falar um palavrão sequer, nunca! Fernando era extremamente polido e definitivamente aquele homem não era nem a metade do que ele fora. Mas ao menos ainda havia vida nele.
Percebeu que o balconista o ignorou totalmente e várias pessoas no bar abaixaram suas cabeças incomodadas.
A francesa se aproximou, apesar de tudo estava feliz por ver Beto novamente e por poder falar de novo sua língua natal. Ela disse:
- Doutor Fernando Roberto Vilela? Sou eu, sua aluna! Eleanor LeBeau.
Não houve resposta, nem sequer uma reação! O que havia acontecido com Dr. Vilela? O que o destino tinha feito com seu amado?
- Sou eu Beto, lembra de mim? Sua aluna da França, sua pequena!
Fernando a olhou quase não a reconhecendo, na verdade a idéia dela estar ali era muito improvável e julgou ser mais uma alucinação, como muitas que vinha tendo naquele ano, principalmente depois...
- Sombra do passado! – ele se irritou afastando as lembranças ruins. – Não me importa se você é real ou não, vá embora!
Enfim uma reação. Não gostou nada da forma como Roberto a tratou, mas ao menos havia se lembrado. Tentou mais uma vez entender o que havia acontecido com seu antigo professor e novamente voltou a falar:
- Não, sou eu de verdade! O que houve com você?
- Já disse para ir embora, droga! – Fernando respondeu em português. – Nem com a bebida, vocês desaparecem?
Alguém no bar falou:
- Vixe! Esse aí já ficou louco, gatinha, mas se você quiser...
- Vai ver se eu estou no beco! – diz Eleanor, não sabendo se usou certo a expressão – Nem tente, estou acima do seu nível, ok?
Entretanto o homem não gostou nada da forma que foi humilhado na frente dos amigos e decidiu que podia pôr aquela pequena garota no seu devido lugar. Assim ele simplesmente foi até a francesa e a segurou no antebraço, puxando-a para si.
LeBeau por sua vez girou o pulso segurando firme, com as duas mãos, no braço do homem e com um efeito de alavanca abaixou-o fazendo que sua cabeça se chocasse violentamente em uma das mesas.
A própria arqueóloga se assustou com aquilo, pois tinha reagido por puro reflexo e percebera que todos os bêbados e desocupados do bar se levantaram para encará-la. Ela percebeu até mesmo o medo do balconista...
Subitamente Beto socou a mesa em que estava e acabou fazendo um barulho tão alto que assustou até mesmo as pessoas que passavam na rua. Dr. Vilela nem sequer precisou olhar para os homens que abaixaram a cabeça e se sentaram novamente, agora sem dizer nada.
A mesma quietude estava na ação do dono do bar, que tirou dali o bêbado que tentou agredir a arqueóloga apenas dando um sorriso amarelo para ela.
- O que você quer comigo Eleanor? – disse Roberto quebrando o constrangedor silêncio. – Por que veio até aqui?
- Finalmente está lembrando!
- Pode ser, mas não respondeu minha pergunta!
- Por causa do Templo e do Ídolo de Ouro...
- Francesa burra! Um templo fenício na América e um objeto que abençoam aqueles que o possuem. Você está atrás de lendas. Perdeu seu tempo!
LeBeau tentou ignorar a ofensa, pois sabia que seu amado estava bêbado e não estava em seu juízo perfeito. Beto ainda estava evasivo, Eleanor lembrava que ele sempre fazia isso quando não queria responder algo, mas sabia que devia. Bem, ao menos está se recuperando! Estou conseguindo trazê-lo de volta! Eleanor imaginou e ficou feliz com esse pensamento.
Uma música começa a tocar na rádio, era a uma das candidatas a melhor de três na estação. Normalmente, devido à situação, a francesa não repararia, mas como até o momento estava passando noticiários, percebeu. Ela já tinha ouvido aquela música, era da banda Metallica que traduzindo ficaria mais ou menos assim:

“Deite ao meu lado, diga-me o que eles fizeram.
Diga as palavras que eu quero ouvir, faça meus demônios saírem.
A porta está trancada agora, mas ela estará aberta se você for verdadeiro.
Se você consegue me entender, então eu consigo te entender.”

A música chamava-se The Unforgiven II, nada mais apropriado! Essa música era uma das favoritas de seu amado, a arqueóloga o conhecia bem. Isso com certeza a ajudaria agora, se alguém pudesse tirá-lo desse estado seria LeBeau sem dúvida!
Com certo otimismo Eleanor voltou a falar:
- Há um diário que...
- Eu sei, fui eu que o encontrei!
- Alex Michael Carter? Foi você que entregou o diário a ele?
- Não entreguei nada para aquele estadunidense mau caráter! O diário estava com aquele Departamento de História ridículo que vocês têm na França.
- Então o Mike realmente roubou deles!
- Você adquiriu a incrível habilidade de perceber o óbvio!
- Doutor Vilela! – a arqueóloga decidiu ser mais impessoal. – Você está me magoando!
A francesa viu novamente a fúria nos olhos de Fernando. Ela achou que ele a falaria mal, que diria insultos terríveis, mas não foi o que aconteceu. Algo o parou subitamente e seu amado voltou a falar perguntando:
- Bem o que você quer de mim afinal?
- Ora, quero sua ajuda, claro! – respondeu. – Quero que você vá comigo na expedição.
- Não!
- Simplesmente não? Beto, você precisa trabalhar, dá para ver isso, não...
- Já disse que não e você não deveria ir também!
Eleanor olhava para ele de forma profunda, sabia que seu olhar o encantava, sempre foi assim, mas diferente de todas as outras vezes, Fernando a encarou, não desviou sequer o olhar, simplesmente disse:
- A coisa mais desafiadora que tem nesse lugar não é o Templo, mas uma tribo indígena que vive lá, os Acritós.
- Acritós?
- Foi o que eu disse, afinal o que há com você?
- Desculpe!
- Os Acritós! Uma tribo extremamente hostil que muitos antropólogos acham que não passa de uma lenda...
- Como? Se você sabe onde eles estão?
- Eu não contei a ninguém, além do mais o vale é uma reserva, eu cuidei disso quando...
Houve uma pausa, Beto reagiu como se lembrasse de algo extremamente doloroso, sua expressão era como se estivesse recebido um golpe, uma facada. O que poderia ter causado isso? Então Eleanor continuou:
- Você realmente não vai vir comigo, não é?
- A garota está ficando inteligente...
- Bem, eu vou partir amanhã cedo, caso você mude de idéia.
- Eu não vou!
- Há uma coisa que eu queria te dar, você pode abrir quando quiser, é meu último presente para você, professor, adeus!
LeBeau entregou o embrulho que carregara durante toda a conversa. Ela lançou um último olhar para ele, para o amor de sua vida. Sentindo-se incapaz de ajudá-lo, pois pôde perceber nitidamente que tudo estava perdido.
A francesa se dirigiu ao carro, saiu o mais rápido que podia daquela maldita cidade, mas não agüentou dirigir por muito tempo.
Aquela música tocava novamente, parecia que tinha ganhado como a melhor de três da rádio...

“Yeah, o que eu senti, o que eu soube
Doente e cansado, eu permaneci sozinho
Você poderia estar lá, porque eu sou aquele que espera por você
Ou você é imperdoável também?”

Parou em um acostamento e ficou lá por alguns instantes refletindo sobre o que conversaram, sobre o que a arqueóloga sentia, sobre sua decepção para com ele. Eleanor chorou copiosamente, e se não foi por seu amado, foi porque todos os seus sonhos e esperanças acabaram.



Doutor Vilela olhava para o embrulho tentando imaginar o que diabos poderia ser. Aquela francesa o conhecia muito bem, sabia que aquilo era alguma forma de convencê-lo a ir com ela. No entanto, notou que sua pequena tinha dito adeus, mas nunca a ouvira falar assim, nem mesmo em sua despedida naquela bela manhã em Paris.
Intrigado, decidiu abrir e ele estava certo! O presente era realmente algo para convencê-lo a ir com ela. Fernando tinha dado aquele presente para a arqueóloga no dia de formatura no Café Montecristo. Sorriu, LeBeau continuava com sua inteligência apurada, como o próprio professor sempre a elogiava naquela época! No entanto, aquilo não importava agora, não passava de lembranças ao vento...
O presente era um chapéu, mas não qualquer um! Era um dos chapéus Cury usados para fazer os filmes da trilogia de Indiana Jones. Os filmes preferidos de ambos. Eleanor sabia que tinha um significado especial para ele.
Roberto alisou o chapéu, lembrando de seu passado. Lembrou quando esteve no misterioso Reino de Preste João e encontrou os restos mortais de Dom Sebastião trabalhando para o Projeto Ares.
Ele olhou para a mesa que estava sentado e alisou mais uma vez o chapéu Cury sentindo seu corpo revigorar-se de uma longa e inexorável demanda. Como se sua antiga força e vontade voltassem, algo que julgava estar esquecido, mas ainda era capaz de se lembrar. Respirou fundo e colocou o chapéu...



Nota do Autor: A cidade de Miraí realmente existe e fica muito próxima de Juiz de Fora em Minas Gerais. Os poucos locais que descrevi existem e sim, realmente existe um Bar do Dedé. Essa é uma cidade linda, típica do interior de Minas e possui toda a doce simplicidade de uma cidade pequena.
O final conta com artefatos e sítios arqueológicos ainda não encontrados da cultura portuguesa e juntamente com já o Projeto Ares, estas são uma homenagem ao Goldfield que além de brilhante escritor é um grande irmão que me ajudou muito com esta estória.
Há uma grande carga de drama no fim, e isso ficou muito marcante. Tentei deixar a cena do chapéu mágica e acho que consegui, para muitos que leram minha estória esse foi o momento mais marcante e qualquer fã de Indiana Jones provavelmente deve ter ficado emocionado com o fim.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Capítulo I - Viagem pelo Brasil

Os cafés, em Paris, não eram mais como os de antigamente. Agora vários turistas passeiam pelas praças à procura dos famosos bares franceses. Aquela calma e beleza que tinham no passado se foram com os flashes e vozes escandalosas.
As cafeterias eram famosas na capital francesa, assim muitos turistas adoravam visitá-las. No entanto, aquele não era um café como o incrivelmente conhecido Les Deux Magots na St Germain des Prés, um dos chamados monumentos da cidade.
A jovem arqueóloga Eleanor LeBeau estava no Montecrisco Café e este não era tão famoso assim, apesar de ser um dos mais lindos de Paris. Podia ver, de sua mesa posta debaixo de um aconchegante toldo vermelho, o Arco do Triunfo, atrás das arvores que compunham a paisagem da grande Avenida Champs Élysées.
A linda francesa olhava para os turistas com desdém, quase não admitindo que em meio àquela confusão que provocavam, sua alegria contagiasse a todos, incluindo ela mesma. Eleanor acompanhava com os olhos um casal apaixonado, podia ver o amor que eles irradiavam um para o outro, e pensava qual fora a última vez em que estivera apaixonada assim. Foi provavelmente na faculdade, quando ainda estava no segundo ano, mas não fora por um jovem aluno, e sim pelo professor Beto.
Doutor Fernando Roberto Vilela, que possuía a cadeira de História do Brasil na Université Paris. Trabalhava no campus conhecido como Panthéon-Sorbonne no qual ficavam as disciplinas de ciências humanas, como Arqueologia, Artes, Filosofia, Geografia e História. Ninguém precisava conhecer o Dr. Vilela para saber de sua competência, pois era muito difícil um estrangeiro ser do corpo docente da Faculdade de Paris. No entanto, os estudos acadêmicos dele eram famosos em toda França, sendo autor de vários livros, não apenas sobre Arqueologia e História.
Também um autor de romances históricos, Fernando fez uma pequena fortuna escrevendo livros de personagens em várias épocas. Logo foi chamado de mestre da narrativa histórica e, embora isso não fosse bem visto entre os outros historiadores, ele era um dos nomes mais bem vendidos tanto na Europa quanto em todo continente americano. Era um homem cativante e não seria estranho que Eleanor ficasse apaixonada por Beto. No entanto, ela não entendia porque ele não a amava, o porquê de não ter conseguido conquistá-lo.
Eu sou uma mulher bonita, pensou. LeBeau realmente era bonita. Seu tamanho era bem pequeno e era muito magra, mas o corpo era formoso e bem desenhado. Tinha os cabelos negros e a pele branquinha, que contrastava com os olhos verdes e sedutores. Aqueles olhos já tinham conquistado muitos dos alunos da Sorbonne, mas apenas um homem a encantara, justamente aquele que Eleanor não conseguira ter...
Aquele sentimento há muito esquecido, há muito tempo enterrado, invadia de forma avassaladora a sua mente. Suas mãos suavam frias e ela sentia a mesma emoção de quando ainda era aluna. Aquela mesma emoção que tantas jovens sentiam pelo amor impossível. Um amor ingênuo e infantil que ela acabara de perceber que ainda não o tinha superado totalmente. Como pode algo ter acontecido há tanto tempo provocar as mesmas sensações?
Perdida em seus pensamentos, ela não percebe o Citroën preto estacionando na calçada ao lado. Eleanor não nota os dois homens saindo do automóvel e se aproximando dela. Estavam vestidos de terno preto e quase se podiam confundir um com o outro de tão parecidos que eram. Quase assustando-a, eles dizem:
- Mademoiselle LeBeau?
- Sim
- Nós somos do GIGN, gostaríamos que a senhorita nos acompanhasse até nosso escritório, por favor!
- Por quê?
Eleanor estava achando tudo aquilo muito estranho, aqueles eram agentes do Groupe d'Intervention de la Gendarmerie Nationale, a famosa força especial da França. Famosa por ser o serviço secreto que menos utilizava a força da violência entre todas as outras agências do mundo. Mas o que aqueles homens poderiam querer com ela? Como se estivessem lendo seus pensamentos os policiais responderam:
- Não é nada demais, não se preocupe, apenas o Département de Archéologie, Histoire e Muséelogie do governo quer falar com a senhorita.
- Desconheço a existência de tal departamento!
Na verdade Eleanor conhecia o Departamento de Arqueologia, História e Museologia muito bem. Já tinha ouvido falar dele várias vezes e sabia que Beto tinha participado do grupo, mas tudo eram rumores não confirmados. Com certeza um brasileiro não estaria em algo tão secreto para a França e não havia motivo para haver um departamento secreto que tratava de História. Aquilo poderia ser apenas boato, lenda urbana de faculdades. Bom, era o que pensava, mas estava enganada...
- Bem, como dissemos não é nada demais, por favor, nos acomp...
- Está certo, está certo, vamos logo com isso!
Assim ela foi ao escritório do misterioso Departamento de Arqueologia, História e Museologia. Lugar que não passava de um pequeno gabinete em um prédio comum na esquina da Rua Henri Chevreau e a Couronnes, perto da entrada do Parque Belleville.
No escritório se encontrava um homem velho, mas enorme. Não tinha os cabelos brancos ainda, apenas a barba. Possuía óculos simples e redondos bem colocados em seu grande e chamativo nariz, que lhe dava toda uma personalidade própria. Vestia roupas comuns e tinha a aparência de muito cansado...
- Dra. LeBeau, eu sou o Dr. René Bourdeaux, chefe do Departamento de História, e vou direto ao assunto, espero que meus homens não a tenham assustado...
- Bem, poderia começar perguntando como um diretor do Departamento de História do governo, algo, aliás, que achava que não existia, emprega agentes do serviço secreto, mas enfim... – respondeu Eleanor. – Se o senhor me disser por que estou aqui, já estarei satisfeita!
- Estou com e seu currículo em mãos, e ele é fenomenal, a senhorita sabia que é a única especialista em História Brasileira da Université Paris?
Não, isso não era verdade, afinal ela não era a única aluna daquela classe, havia outros 30, pensando apenas naquele ano. O Brasil sempre teve boas relações com a França e suas histórias várias vezes se encontraram. Era natural uma matéria sobre Brasil naquele país e a procura era relativamente grande. O porquê de eles a quererem era a questão. Só poderia ser por outro e misterioso motivo.
- Não sou especialista e têm vários outros doutores que fizeram o curso de Brasil na Sorbonne!
- Sim, mas a senhorita é a única arqueóloga a estudar civilizações pré-cabralinas, não estou certo?
- Pode ser, mas como já disse não sou especialista, por que os senhores não chamam o Dr. Vilela? Ele é o especialista!
Falar o nome dele novamente era estranho. Ainda não acreditava como aquela história tão antiga ainda poderia mexer com ela. Eleanor teve que se conter para não demonstrar nenhuma reação ao Dr. Bourdeaux, que voltou a falar:
- Sim, Dr. Fernando Roberto Vilela, ele está no Brasil, parece que virou político ou algo assim! De qualquer forma, não podemos entrar em contato com ele!
Era realmente incrível que depois de tantos anos ela se lembrasse dele casualmente, e justamente naquele dia ele fosse mencionado. Seria uma simples coincidência? Não, ela não acreditava nisso! Não acreditava em coincidências, e foi justamente ele que a fez pensar assim...
- Continuem! – Disse Eleanor.
- Como assim? – Respondeu René.
- Continuem! O que exatamente vocês querem de mim?
- Ah sim! Como você sabe, foram descobertas civilizações antigas no Brasil.
- O quê? Fala dos vestígios de colônias fenícias achadas pelo coronel Percy
Harrison Fawcett? Isso já foi desacreditado pela academia, Doutor, são
apenas boatos! Nada realmente comprovado...
- É justamente isso que a senhorita vai provar, achamos a possível
localização de um templo, muito antigo, em algum lugar do Vale dos Acritós
na Serra da Mantiqueira, estado de Minas Gerais.
- Como vocês sabem disso?
- Nós, bem... Encontramos uma mensagem de um arqueólogo americano
que vivia aqui, e está indo para lá, costeado por Harvard.
Não, não poderia ser ele, isso já era coincidência demais, ela pensou. Não poderia ser o estadunidense que estudou com ela na Sorbonne. O mesmo canalha que arruinou a vida de sua melhor amiga. Ah, querida Fabienne, isso simplesmente não pode estar acontecendo comigo novamente. Seus pensamentos foram interrompidos pela voz de René:
- O nome desse arqueólogo é...
- Alex Michael Carter! – Interrompeu Eleanor.
- Sim, ele mesmo! Como a senhorita sabe? Claro que sabemos que estudaram juntos, mas achávamos que não tinham mais contato!
- Estão me vigiando?
- Não! Longe disso!
- Bem, só podia ser o Mike! Claro que agora o senhor me convenceu, eu vou para o Brasil!
- Ótimo, a senhorita terá ao seu dispor recursos do estado francês. Temos alguns dos melhores escavadores à sua...
- Eu sei como fazer meu trabalho, Dr. Bourdeaux, por isso me contratou.
- Sim, é claro, Dr. LeBeau! No entanto – disse René – temos também algo que possa ajudar muito!
- O que seria isso?
- Há um diário escrito por alguém que esteve próximo ao Templo, isso em meados do século XVII.
- E nós o temos! – Disse ela.
- Não, infelizmente! O diário foi misteriosamente roubado, acredito que tenha sido pelo Dr.Carter.
- Isso com certeza!
- Mas felizmente o diário estava em português. Logo tinha que transcrevê-lo em francês para entendermos. Entretanto o português não é meu forte, ainda mais arcaico. Assim nós temos apenas uma página do diário, acho que pode ajudar!
Falando isso René entrega uma folha fotocopiada de suas anotações sobre o diário, sua escrita era péssima, mas Eleanor tinha decifrado os códices astecas do México, aquilo não seria nada!
O pequeno texto dizia:

“Dor e desgraça! Todos os meus sonhos se foram! Escrevo este diário mais para não enlouquecer que por qualquer outro motivo. Devo relatar o que houve, talvez este diário chegue às mãos de algum homem que possa usá-lo contra esses selvagens. Só me resta orar pela Providência Divina para que tal venha a acontecer”.

LeBeau pensou sobre aquilo por um breve momento. Era totalmente inútil o texto, ela pensou. Não percebeu o conteúdo agourento daquelas palavras. Na verdade não se importava. Não sabia de todos os perigos terríveis que passaria e que teria as mesmas sensações do homem que escrevera aquilo há tantos séculos. Assim, voltou a falar:
- Isso não ajuda muito!Sim, mas eu li o conteúdo do diário, ele fala do Templo e de um Ídolo.
- Ídolo?
- O Ídolo de Ouro, uma pequena estátua de algum pássaro que cura...
- Uirapuru! Um pássaro que cura com o canto. Eu não conheço bem as lendas indígenas daquele país, mas acho que era mais ou menos isso! O pássaro existe realmente, dizem que tem um canto lindíssimo.
- Sabia que era a senhorita a melhor para essa busca! Queremos que o encontre e traga qualquer prova da existência do templo para o Louvre! Sigilo é muito importante.
- Sim, claro. Quando será minha viagem? Eu tenho algumas coisas para preparar ainda, mas posso partir ainda nessa semana.
- Não, senhorita, você irá hoje à noite, a passagem já está comprada em seu nome, boa viagem!
- Bem, parece que há certa urgência nisso...
- Lembre-se, senhorita, que o americano já está lá e tem o diário completo!
- Mas ele não tem o que eu tenho, Dr. Bourdeaux!
- Como assim?
- Eu tenho o Dr. Vilela!




Nota do Autor: Os agentes são do GIGN (Groupe d'intervention de la gendarmerie nationale), um grupo real francês que combate o terrorismo. Coloquei-os para dar uma característica secreta à missão e porque eles são considerados os mais eficientes do mundo. Diferente do Departamento de Arqueologia, História e Museologia, este não existe realmente.
Realmente existe uma cadeira de História do Brasil na famosa faculdade de Paris, até onde sei é dada pelo Historiador Luiz Felipe Alencastro e ele é mencionado em outro capítulo. Resolvi colocar que o Fernando seria o professor antes dele, mas realmente não sei de quando a quando Dr. Alencastro lecionou.
Era importante que Eleanor fosse especialista no Brasil, não só pra ela ser chamada, mas também para explicar várias informações no decorrer de toda a minha estória.
O Vale dos Acritós é uma criação dos autores do RPG O Desafio dos Bandeirantes e resolvi usar como pano de fundo em minha estória, mas realmente alguns fatores foram mudados, incluindo sua localização. O trecho do diário vem do RPG e transcrevi na estória.
O nome Alex Michael Carter vem de outra estória minha que aproveitei, sempre achei um bom nome e acaba fazendo referência ao arqueólogo Howard Carter, embora esse realmente seja um bom arqueólogo, diferente da minha personagem.